A triste realidade das pessoas que se alimentam de lixo

Homem procura comida em sacos de lixo na Rua César Bierrembach, no Centro: ?A gente perde a vergonha?

Encostado em uma das caçambas de lixo que ficam ao lado do Mercado Público de Campinas, no Centro, o funcionário Perci Ruas da Silva não consegue segurar as lágrimas. Ele lembra da vez que viu uma pessoa avançar no amontoado de carne, peixe e verduras descartadas atrás de algo para comer.

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A cena o obrigou a ir até um restaurante, trazer uma marmitex e um refrigerante para o faminto que não fazia mais questão de usar a dignidade na hora do almoço. Silva é responsável por monitorar as lixeiras do local, que passaram a ser trancadas com cadeados durante boa parte do dia para evitar o garimpo que muitos preferem não ver.

Diariamente, seres humanos fazem dos detritos dos outros a sua chance de se alimentar. Com renda per capita de até R$ 140,00 mensais, cerca de 27 mil famílias vivem abaixo da linha da pobreza em Campinas. A existência da fome em uma região tão rica é uma contradição difícil de compreender. 

Ao mesmo tempo que alguns buscam a sobrevivência nos restos, o Banco de Alimentos de Campinas, instalado na Centrais de Abastecimento (Ceasa), reúne cerca de 60 toneladas por mês em doações. O próximo 16 de outubro é o Dia Mundial da Alimentação e vale a pena lembrar que, diariamente, 20% de todos os alimentos produzidos no mundo acabam indo para o lixo. Só no Brasil são 39 milhões de quilos desperdiçados diariamente.

“Eu fico parado olhando e penso: ‘Meu Deus!’ Meus pais não me ensinaram a ver esse tipo de coisa e ficar calado. Milhares de brasileiros passam por isso, mas a maioria dá as costas. Acho um absurdo as pessoas terem que buscar no lixo uma forma de se alimentar”, lamenta Silva, no Mercadão. Ele abre as caçambas para que os comerciantes descartem seus dejetos sempre às 9h, às 13h e às 17h. As lixeiras ficam abertas por 30 minutos e depois são trancadas novamente. “A situação melhorou, isso aqui era muito pior no passado, um garimpo mesmo. Tinha fila de gente querendo pegar comida e não só de Campinas; vinham de Hortolândia, Monte Mor”, lembra o comerciante Edson Shimabukuro. ( Fonte : Correio Popular )